Dados Técnicos:
Nome Original:
Desideria e l’anello del drago
Ano de Produção: 1994
Duração: 114 minutos
Gênero: Fantasia
Formato: Filme direto para a TV
Com: Anna Falchi, Franco Nero, Sophie von
Kessel, Ute Christensen e Vladimir Furdik
Tal qual Interzone, Desideria e
l’anello del drago (O Anel do Dragão) fez parte por muitos anos do catálogo
de filmes exibidos pelo SBT no Cinema em Casa, sendo difícil
precisar se depois do período em que esteve na emissora de Silvio Santos
ele chegou a ser exibido em alguma emissora obscura como a CNT, ou
simplesmente não contou com mais exibições no Brasil.
A título de curiosidade totalmente irrelevante,
em todos os registros de filmes exibidos no Cinema em Casa, ele sempre contava
com uma data de exibição bem próxima da de Internoze (inclusive em uma
destas ocasiões, em 1997, que tive a oportunidade de conhecer eles).
Quanto ao presente filme, foi bem mais exitosa
a sua busca, sem precisar recorrer para algum canal russo do Youtube ou procurar
em sites obscuros que um vírus para computador seria o menor dos problemas.
Originalmente Desideria e l’anello del drago
(O Anel do Dragão) fora uma minissérie televisiva italiana de duas partes com
quase três horas e meia de duração no total, minissérie esta que posteriormente
acabou sendo compilada nestas quase duas horas que deram origem ao filme.
Processo bem parecido com aquele que a Globo
fez com O Auto da Compadecida, que surgiu inicialmente como uma
minissérie em 1999 e depois foi convertida em um filme.
Quanto ao filme, fiquei surpreso positivamente
com ele, é bom (ainda mais quando comparado com o padrão que tenho lidado aqui)
e bem feito.
E como eu lembrava quase nada dele, a maior
lembrança que tinha era de uma atriz que interpretava uma das personagens
principais e achei que ela ficava em tela durante a maior parte do tempo, mas revendo
agora, foi uma participação pontual, que não durou sequer dez minutos.
Antes de mais nada é importante compreender o
filme pela ótica das limitações orçamentárias que lhe são impostas.
Não estamos diante de uma grande produção hollywoodiana
como Percy Jackson & the Olympians: The Lightning Thief (Percy
Jackson & o Ladrão de Raios) ou Transformers: The Last Knight (Transformers:
O Último Cavaleiro), mas sim uma produção que era voltada para a televisão
italiana no ano de 1994, ou seja, não tinha os tubos da grana para sair
gastando livremente.
Como o orçamento disponível é bem menor, a
criatividade dos responsáveis passa a ter um papel crucial e é ela que faz toda
a diferença para definir quais rumos uma produção pode tomar, podendo ir do
trabalho desprezível mostrado em Dungeons & Dragons: Wrath of the Dragon
God (Dungeons & Dragons 2: O Poder Maior) ou algo que surpreenda a
todos.
Quanto ao filme em si, Desideria e l’anello
del drago (O Anel do Dragão) é uma clara adaptação do ideário dos Contos de
Fada e claramente consegue ser competente naquilo que pretende.
O eterno duelo entre Princesa e Bruxa Má
encontra-se presente e é visto com uma roupagem um tanto quanto diferente do
que a tradicional.
O duelo é representado pela Princesa
Desideria (Nikol Stíbrová/Zuzana Rybárová/Anna Falchi), filha primogênita
do temível e cruel Rei Dragão (Franco Nero) e sua irmã adotiva, Princesa
Selva/Selvaggia (Katarina Litomericka/Sophie von Kessel), que fora
encontrada pelo Rei dentro de uma toca de lobos ainda bebê quando ele
regressava de uma conquista e desde o início fora vista por ele como um sinal
de bom presságio.
Desde o primeiro encontro delas, assim que Selva
chegou ao castelo do Rei Dragão, ficou clara a relação de animosidade
existente e que só ampliou com o passar do tempo.
Além disso, a chegada de uma nova pessoa passou
a representar uma profunda mudança da forma como Desideria era vista por
todos.
Até aquele momento ela era a querida filha do Rei
Dragão, amada e cuidada por todos, depois passou a ser relegada há um
segundo plano, se tornando alvo da ira daqueles que antes a respeitavam e do constante
descontentamento de seu pai, encontrando como único ponto de refúgio a sua Ama
de Leite (Billie Zöckler).
O perigo que Selva representa para a sua
irmã é mostrado desde o início e os telespectadores têm uma noção clara de quem
é quem e de como a jovem princesa é dissimulada em suas atitudes, algo que é
ainda nebuloso para os demais personagens, que enxergam em tudo uma espécie de
ciúmes desmedido de Desideria por sua irmã, chegando, inclusive, a ser
repreendida pela Rainha Dragão (Ute Christensen) por sua postura.
O ponto de inflexão da trama fica por conta da
entrada em cena do Príncipe Victor (Joel Beeson/Johan Kolinsky), um
rebelde que deseja reaver o seu reino que fora tomado pelo Rei Dragão
muitos anos antes.
Como em um bom Conto de Fadas, ele é o príncipe
encantando por quem Desideria acaba se apaixonando e diversas situações
que se seguem levam ela a deixar o reino de seu pai e seguir para uma nova
vida.
Ao mesmo tempo as origens de Selva são
reveladas bem como qual é o seu propósito em meio a isto tudo e as duas tramas
passam a caminhar paralelamente rumo ao desfecho final.
Infelizmente é neste ponto que a obra acaba se
perdendo um pouco e o bom nível apresentado até então tem uma queda fulgurante
comparado com tudo o que vinha acontecendo antes.
Uma personagem nova é introduzida, com um papel
importante e não há qualquer explicação quanto a sua origem, servindo só de
trampolim para o caminho do desfecho.
O reencontro de Victor e Desideria
também é estranho em que claramente parece estar faltando algo ali. Poderia ser
algo que existia no material completo que acabou suprimido da versão compilada
e acabou provocando este estranhamento.
Há, ainda, o derradeiro confronto final, em que
não há qualquer explicação para o que acontece e nem de onde surgiu aquilo. A
única explicação que me vem à mente é que seja alguma espécie de refluxo.
O filme ainda peca no destino que dá para
alguns dos personagens, ainda mais que não existiram quaisquer justificativas
para que aquilo pudesse acontecer.
Acaba sendo uma pena, detalhes como estes
derrubam algo que poderia ser incrivelmente surpreendente e mostrar como que
algo ser bom não é necessariamente por conta do dinheiro gasto.
Existem outras questões pontuais que acabam
dependendo mais da compreensão que quem esta assistindo dá daquilo, como por
exemplo quanto ao Anel do Dragão, quanto a ele, apenas pelos diálogos dá para
supor que possa ser um item mágico que concede ao seu portador o poder de se
converter em um conquistador e alcançar o sucesso nas batalhas, algo como a
representação de Nike na mão esquerda de Atena, sempre a guiando para
as vitórias na Mitologia Grega.
Além disso, o Anel pode ser interpretado como
um sinal de mau agouro, em que em troca do poder e da conquista que leva o seu
portador, também trás consigo o ódio e a revolta de todos, pondo provocar
traições e rupturas.
Então o Anel tem que ser visto como um símbolo
de duas faces, ao mesmo tempo que trás poder e conquista, trás ao seu portador
o ódio dos conquistados.
Como é possível de notar, a magia é algo
presente neste universo.
Tanto que logo de início acompanhamos uma
pequena Desideria conversando com suas bonecas. Bonecas estas que são
incrivelmente medonhas e que provocam medo em qualquer um. Espero que a coitada
da atriz não tenha ficado traumatizada de ter que dividir cena com aquelas
coisas, ainda mais com elas falando.
As fechaduras do castelo também tinham a
habilidade da fala, e sempre que Desideria se aproximava de alguma delas,
elas criavam uma boca para poderem comunicar.
Os animais também podiam falar, mas no caso
deles havia uma explicação por detrás disso.
Aproveitando para falar deles, que coisa mais
feia é o lobo falante. Parece que aproveitaram um animal que não foi empalhado
corretamente, aí a cabeça dele sempre estava estranha.
Só é superado por uma criatura que os olhos não
paravam quietos e ficavam se movendo desesperadamente para todas as direções.
Por razões óbvias, Desideria é a mais importante
das personagens e por conta disto é aquela que fica mais tempo em tela.
Muito embora ela seja uma Princesa dos Contos de
Fadas e a sua história possa dar esta impressão, ela passa longe do clássico
arquétipo que acompanha estas personagens e que vemos em obras como Snow
White and the Seven Dwarfs (Branca de Neve e os Sete Anões) ou Sleeping Beauty
(A Bela Adormecida).
Ela não é aquela princesa que aguarda ansiosa o
resgate de seu príncipe encantado.
Inclusive é ela quem vai ao resgate dele em
mais de uma oportunidade.
Além disto, tirando a revolta capitaneada por Victor,
ela é a única personagem que se posiciona contra os métodos de seu pai, não concordando
com a maneira dele agir.
Ainda assim, ela também não carrega o espírito
de princesas como Merida de Brave (Valente) ou Elsa de Frozen
(Frozen: Uma Aventura Congelante), muito embora se aproxime muito mais do
que elas são hoje do que daquela visão clássica existente.
Tanto que quando o seu pai resolve fazer um
torneio para escolher aquele que iria desposá-la ela se mostra totalmente contrária
à ideia, além de se revoltar com o seu papel de troféu e de ser um pedaço de
carne para aqueles sujeitos.
Uma princesa que já ansiava com a liberdade e contra
as amarras clássicas existentes.
Ah sim, aconteceu um torneio aberto a todos os príncipes
e que reuniu os tipos mais genéricos possíveis, nem todos chegaram a ser nomeados
e o único que teve uma mínima personalidade foi Lisandro (Karel Roden).
Selva é a vilã dissimulada e que
sempre soube agir de forma que a sua irmã fosse a errada da história aproveitando-se
de sua “inocência”.
Ela foi construída para funcionar como um
contraponto a Desideria, em que todas as virtudes desta eram as suas
desvirtudes.
Realizando o clássico jogo entre luz e sombra.
O filme é construído para mostrar logo no
início que Victor terá uma importância ímpar no futuro e que não é para
você se esquecer dele.
A forma como ele é construído também passa a
clara sensação de que será o clássico arquétipo do príncipe que se apaixona
pela pessoa de rosto desconhecido e que segue a sua jornada em busca dela, como
em Cinderella (Cinderela), além de combater a bruxa má que causa infortúnios
à sua estimada donzela.
A trama até que deu um jeito rápido na história
da amada sem rosto e nome que é a filha de seu nêmesis, além de se mostrar
falho na missão de proteger a donzela.
Se bem, que se pararmos para pensar, não há uma
donzela a ser protegida.
Em termos de personalidade não há nenhuma
grande construção, funcionando apenas como o rebelde do reino por quem a
princesa se apaixona. Ele tão somente se mostra insubmisso ao Rei Dragão
e disposto a libertar o seu povo.
Como é de se supor, o filme se passa em algo
próximo ao que seria a Europa Medieval, por conta das armaduras dos cavaleiros,
a realização das justas e a cidade construída no entorno do castelo.
Ainda assim, o Rei Dragão durante as
festas se veste de uma forma que se assemelha mais àquela de um Sultão.
Os efeitos especiais em sua maioria ficaram
convincentes, a exceção fica por conta do lobo estranho e da criatura com olhos
descontrolados.
O responsável pela direção do projeto foi de Lamberto
Bava, um diretor cujo trabalho se encontra massivamente voltado para o
mercado italiano, tendo como grande destaque a série de cinco filmes Fantaghirò.
Algo que me incomodou em alguns momentos foi a
escolha por parte dele de fazer uso de umas batidas mais voltadas para o pop que
em nada combinam com o estilo do filme e nas duas ocasiões acabou me desconectando
momentaneamente do que estava acontecendo.
O roteiro ao seu turno ficou a cargo de Gianni
Romoli, que assim como Lamberto Bava os seus trabalhos encontram-se
voltados para o mercado italiano, além disto Desideria e l’anello del drago
(O Anel do Dragão) não foi a primeira contribuição dele para com o diretor,
tendo o acompanhado nos filmes Fantaghirò.
Um destaque (ir)relevante fica por conta de
Vladimir Furdik como um dos príncipes genéricos que aparecem no meio da trama, Sigismondo.
Este foi o seu primeiro papel como ator, nem foi possível saber se teve alguma
fala. Para quem não liga o nome ao ator, foi ele quem cerca de vinte anos
depois ele deu vida ao Rei da Noite em Game of Thrones.
O ataque alien dos games!
Esse filme parece ser melhor do que a capa. Depois você tem que pegar a série para ver se os furos do filme foram adaptações falhas do seriado ou se foi algo mal feito na série também. E realmente, parece algo superior ao que você tem trabalhado.
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