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O IMAGIN DESPACHADO É NEWTRAL

Dados Técnicos:


Nome Original: Kamen Rider x Kamen Rider x Kamen Rider: Chô Den-ô Trilogy - Episode Blue: Haken Imajin wa Nyūtoraru

Ano de Produção: 2010

Duração: 73 minutos

Gênero: Ação, Aventura, Comédia

Formato: Longa Metragem

 

Com: Takuya Mizoguchi, Tamaki Matsumoto, Wakana Matsumoto, Rina Akiyama, Kenjirô Ishimaru, Dôri Sakurada e Yûko Takayama

 

Shotaro Ishinomori foi um profícuo criador, ao longo de sua vida (1938-1998) foram várias as suas criações e para as mais variadas mídias.

No Brasil ao final dos anos 1980 e início dos anos 1990 tivemos a oportunidade de entrar em contato com uma singela parte de seu vasto catálogo, por meio das séries Super Sentai (Changeman e Flashman), Metal Hero (Jaspion, Jiraiya e Winspector) e os Kamen Rider (Black e Black RX), além de Patrine, para ficarmos nos mais conhecidos.

Destas, apenas os Super Sentai seguiram ininterruptamente (e desde 1979) nas terras nipônicas, enquanto os Metal Hero acabaram extintos em 1998; desde estão contam com participações periódicas nos cinemas.

Quanto aos Kamen Rider, eles enfrentaram um período de hiato entre o término de Black RX em 1989 até o início do ano 2000, quando Kamen Rider Kuuga foi lançado. Desde então as séries vêm seguindo de maneira ininterrupta.

Séries estas com as mais variadas temáticas. E sem dúvidas, aquela que acabou alcançando o maior sucesso comercial foi Kamen Rider Den-O, de 2007.

Para se ter uma ideia do que Den-O representou em termos de sucesso comercial, até o seu lançamento o padrão estabelecido pela Toei Company (produtora de todas as séries mencionadas) desde 2001 era o de lançar um filme da série que estava no ar, contando com uma história independente e muitas vezes sem qualquer relação com o que vinha sendo exibido.

Filmes estes que em sua maioria são totalmente esquecíveis e pouco inspirados.

Com Den-O isto mudou, além do filme regularmente lançado, outros cinco filmes que expandiam a mitologia daquela série foram lançados.

Quanto a Kamen Rider Den-O, a série conta a história de Ryotaro Nogami (Takeru Satoh), um jovem de pouca sorte e muito azar que tem que enfrentar a ameaça representada pelos Imagins, seres de um futuro alternativo que possuem a capacidade de viajarem no tempo após fazerem um “contrato” com um hospedeiro humano em troca de realizar um desejo dele, e para lidar com todo o tipo de desafio ele tem que se aliar com os tipos mais estranhos, inclusive outros Imagins.

A função de Den-O é a de ser uma espécie de “guardião do tempo”, garantindo que a história siga normalmente o seu curso, e que as ações dos Imagins sejam minimizadas o máximo possível.

Antes de adentrarmos ao filme é importante esclarecer que ele é parte de algo que ficou conhecido como Cho-Den-O Series, que são eventos retratados em uma realidade paralela àquela exibida na série de TV, em que a principal diferença é a troca do ator que faz o protagonista.

Mas porque falar deste filme?

Pois é.

Como eu falei antes a grande maioria dos filmes que envolvem os Kamen Rider são totalmente esquecíveis, o que de certa forma foi o caso deste filme. Não me lembrava de uns 70% dele (eu o assisti no meio de 2011), mas é justamente a parte que eu lembrava que justifica a existência deste texto.

Não só o cinema, mas as artes em geral envolvem uma certa dose de sentimento. Seja do criador, seja do expectador. E este sentimento pode ser dos mais diferentes matizes. Com Dragonball: Evolution o sentimento foi de raiva por ter que assistir àquilo.

E quando se fala do sentimento do expectador ele é algo que varia muito de pessoa para pessoa, além de ter que se levar em conta o momento em que você entra em contato com aquilo.

A sensação que você tem em determinado momento de algo, pode ser bem diferente depois de um determinado tempo, mas também é bom e importante quando é possível se reconectar com a mesma sensação.

De um modo geral as escolhas do diretor de O Imagin Despachado é Newtral deixam muito a desejar. Por diversas vezes você acaba se perguntando do porquê ele ter feito aquilo sem entender minimamente qual era a ideia por detrás daquilo.

Uma marca de Den-O (e algo que acredito que tenha contribuído para o seu sucesso comercial) foi a trama “alegre” e descontraída, recheada por personagens caricatos, o que contrastava bastante com as demais séries, em que os protagonistas tinham um ar mais soturno.

Inclusive um problema que sempre notei na série foi a falta de consequências para os personagens. De cabeça me lembro de apenas um episódio em que as ações dos Imagins tenham gerado algo (assisti a série em 2009, não tem como lembrar de tudo).

Aí no filme o diretor, Kenzô Maihara, vai e opta por em alguns momentos tentar aplicar conceitos de filmes de terror para tentar retratar algumas passagens, só que sem mostrar o menor traquejo para a coisa. A única coisa que vem em nossas mentes é “pra que isso?”.

Fora a quantidade de personagens fora do tom, sendo estridentes a todo momento mais se preocupando em gritar e fazer caras e bocas do que qualquer outra coisa.

Dois figurantes que apareceram em apenas uma cena só conseguem irritar com esta postura.

A trama do filme caminha por meio de duas histórias paralelas que de tempos em tempos vão se encontrando em razão da natureza da atividade do protagonista.

De um lado temos Miko Uehara (Yûko Takayama) uma jovem adulta, como tantas que temos por aí, que adora se divertir com os amigos e o namorado e que por conta disto acaba relegando a companhia de sua avó, Sanae Uehara (Reiko Kusamura), para um segundo plano, até que passa a ter que lidar com a presença de um doppelgänger.

Ao mesmo tempo Ryotaro Nogami (Takuya Mizoguchi) e Momotaros (Toshihiko Seki [voz]) saem feridos de uma luta contra uma Imagin (Michie Tomizawa [voz]), só lhe restando poder contar com a ajuda de seu neto, Kotaro Nogami (Dôri Sakurada), e Teddy (Daisuke Ono [voz]).

Duas coisas. A ideia de viagem no tempo aqui é mais flexível do que estamos acostumados a ver nos filmes americanos, então, não há nenhum problema na interação entre Ryotaro e Kotaro, com eles lidando sem qualquer sobressalto com a situação. Quanto a Momotaros e Teddy, eles são Imagins que auxiliam os dois, além deles, há, ainda, Urataros (Kôji Yusa [voz]), Kintaros (Masaki Terasoma [voz]), Ryutaros (Kenichi Suzumura [voz]) e Sieg (Shin’ichirô Miki [voz]).

É inegável que o plot do filme é o mais básico possível (descobrir quem firmou o contrato com o Imagin e derrotar o monstro do dia), restando agarrar no que fez a diferença, que foi a motivação de alguns personagens e o amadurecimento através da jornada do protagonista. Ele saiu maior do que entrou.

Não há como negar que o filme soube mostrar isto, mérito para o roteiro de Yasuko Kobayashi, que soube mostrar toda a dificuldade enfrentada por Kotaro em lidar com uma situação diferente da qual estava acostumado, e de como aquela ausência estava lhe fazendo falta.

Algo que, contudo, acabou faltando para a Miko, no caso dela não houve nenhum crescimento e aprendizado, sequer a “provação” que teve que passar em parte do filme serviu para algo, tanto que quando o empecilho tinha sido aparentemente superado ela acabou seguindo o seu caminho como se nada tivesse acontecido. Tanto que a sua participação encerra no segundo ato.

Por mais que o enfoque não fosse nela em si, um desfecho era necessário.

É justamente neste recheio que entra aquela questão de “sentimento” mencionada antes.

Alguns personagens são obrigados a lidar com a perda de alguém, e a tentativa de lidar com esta perda, marcado, ainda, pelo sentimento de que foram as suas próprias escolhas que guiaram para aquele caminho.

Enquanto de um lado temos alguém que aceita aquela situação e tenta seguir adiante sem olhar para trás, mas que aos poucos acaba percebendo que a sua postura não é correta e tem sim que se importar e sentir a falta de alguém ao seu lado, de outro temos alguém que se perde no seu próprio sentimento de arrependimento, e que pouco a pouco vai sendo consumido por ele, não se importando em pagar o preço que for para tentar aplacar a sua angustia e tentar aliviar minimamente a chaga de sua alma.

Obviamente a situação que cada um se encontra naquele momento propicia tais posturas, enquanto para um ainda existe a opção de colocar as coisas no seu devido lugar, para o outro esta opção não é mais viável.

A história já havia sido consumada.

Desta forma, fica nítido que não há outra opção além do “desespero” e da tentação de se entregar a algo que possa lhe ajudar, mesmo que tenha um alto custo.

É de se notar que há aqui muito mais do roteiro e da minha interpretação do que assistia, do que necessariamente da atuação, que muitas vezes é incapaz de passar este mais necessário.

O acerto do roteiro, que foi trabalhar a culpa, perda e desespero, deve ter durado uns vinte minutos. E foi incrível como marcou. A lembrança que tinha era que o filme tinha sido todo construído assim.

Uma lembrança bem forte.

Creio que muito tenha se devido do estado de espírito ao assistir ao filme naquele momento, algo que consegui recuperar agora, mas com muito mais consciência.

Toda a experiência pessoal vivida tem uma forte contribuição para todos os sentimentos envolvidos.

E saber como trabalhar todo este conjunto é muito importante.

Em Dragonball: Evolution houve uma tentativa de se fazer algo parecido, só que o resultado foi totalmente patético e embaraçoso, fora que vinte minutos depois ninguém se lembrava mais daquilo. Estava ali, mas para nada.

Não basta só ter a ideia, tem que saber como executar também, algo que foi feito de uma forma bem melhor aqui.

É curioso refletir como esta jornada de expiação poderia ter sido tratada de uma forma diferente e mais “poética” se a obra tivesse um enfoque diferente.

Por ser uma série “família” não seria adequado o filme adotar este tom, mas poderia ter acontecido um paralelo entre dar o contrato por cumprido e aceitar as suas consequências enquanto ao lado tudo seguiria como se nada tivesse acontecido.

Eu pensei que sempre estaríamos juntas.

Wakana Matsumoto merecia uma participação maior.

O Imagin Despacho é Newtral deu uma pequena oportunidade de corrigir o passado, algo que nem todos têm.

Comentários

  1. Duas observações importantes sobre o autor puderam ser feitas a partir da análise do filme supracitado:
    1) só ele acha Patrine "mais conhecido";
    2) ele adora dragon ball evolution, já viu o filme uma renca de vezes (como assumido na resenha do filme) e ainda fica trazendo referências do filme sempre que pode.
    3) o resenhista queria que Kamen Rider se tornasse uma série "trevosa"
    4) o resenhista é um tanto quanto "exótico" para tratar de um filme japonês obscuro baseado em herói vestido de inseto (mas para quem escolheu interzone para ser um filme digno de resenha, isso é uma "terça feira a tarde" para ele)

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