INTERZONE
Dados Técnicos:
Nome Original:
Interzone
Ano de Produção: 1987
Duração: 97 minutos
Gênero: Ação, Comédia, Sci-fi
Formato: Longa-metragem
Com: Bruce Abbott, Beatrice Ring, Teagan Clive,
John Armstead, dentre outros
Escolher filmes obscuros para assistir tem os
seus custos, e um deles (que só não acaba sendo o principal ante a “qualidade”
do que acabamos assistindo) é o de tentar encontrar o filme desejado. E Interzone
acaba sendo um bom exemplo disto.
Afinal, o menor dos males acaba sendo o de
acessar sites ainda mais obscuros do que os próprios filmes e que nos dão de
presente um ou dois vírus ao nosso computador.
Afora isto, o registro mais confiável acaba
sendo o de um canal no YouTube que utiliza o idioma cirílico e que tem o
filme inteiro disponibilizado.
Por sorte estava com o áudio em inglês.
Por azar a qualidade do áudio é horrível.
Em português um ou outro registro de trechos da
obra são encontrados, além de uma propaganda para ele no Canal CNT
(finado?).
Muito embora os seus registros televisivos
encontrados sejam ligados à CNT, o meu contato com ele se deu no SBT,
quando ainda existia o Cinema em Casa, logo no início da tarde, no ano
de 1997.
Caso não esteja enganado, deve ter sido até
então a única vez que assisti a este filme, e sequer me recordo bem de suas
cenas ou mesmo de quais foram as minhas reações com ele. Talvez tenham sido
positivas, já que me recordo do nome dele, algo que só aconteceu mais duas ou
três vezes para produções deste período.
O mais engraçado da história toda é que os
principais registros visuais do filme encontrados na internet são do VHS
brasileiro.
Espero que todo esse perrengue seja devidamente
recompensado.
Um dos brocados mais famosos que existem é
aquele que diz que “nada se cria, tudo se copia”, e na realidade
cinematográfica ele acaba se aplicando em uma constância muito maior do que a
desejada.
Já tivemos aqui Battle Beyond the Stars
(Mercenários da Galáxia), que foi uma tentativa de combinar Shichinin no
Samurai (Os Sete Samurais) com as óperas espaciais, muito por conta da
influência representada pelo sucesso de Star Wars três anos antes de seu
lançamento.
Agora é a vez de Interzone, que bebeu na
fonte de Mad Max e representa uma obscura versão italiana de um futuro
pós-apocalíptico inspirado no universo criado por George Miller em 1979.
E, bem, pós-apocalíptico foi ter assistido a
isto daqui.
Estou realmente curioso em saber a intenção dos
responsáveis pelo filme, porque o resultado foi algo para lá de “esquisito”,
para dizer o mínimo.
O filme é focado em Swan (Bruce Abbott) -
cujo nome somente é revelado com quarenta minutos de projeção - um sujeito
carregado no arquétipo do anti-herói que em muito lembra o Han Solo de Star
Wars.
Inclusive o seu visual que é bem parecido ao
daquele usado pelo personagem de Harrison Ford em A New Hope (Uma
Nova Esperança), a diferença mais notável fica por conta de sua camisa, que no
caso daqui mais parece uma daqueles sujeitos marombados que vão para a academia,
em que a gola está no meio da barriga.
E ao que parece sobrevive aplicando golpes na
região em que se passa o filme, o que não parece ser muito difícil dado o nível
cognitivo médio dos personagens que aparecem no filme.
Aliás, para um mundo pós-apocalíptico, até que
existe muita água e natureza nele, está bem mais conservado do que a realidade
em que vivemos.
Ao que parece o fato gerador da hecatombe
mundial somente afetou a civilização humana, já que ela regrediu para um
momento próximo ao das Idade Média, muito embora alguns aspectos do mundo contemporâneo
tenha se mantido, como as motos e carros, que aqui viraram uns trambolhos muito
feios, além das armas de fogo, muitas armas de fogo.
O grande momento do filme é logo em sua parte
inicial, em que mostra algo que se parece muito com uma mistura pouco usual de
uma taberna medieval com boteco copo sujo.
Lá é uma boa amostra da salada que é o filme.
O local é uma combinação dos mais variados
elementos.
As dançarinas, por exemplo, se vestem como se
tivessem saídas de uma aventura das Mil e Uma Noites, enquanto o dono tem
o visual carregado no estereótipo árabe.
Os demais personagens parecem saídos de um
clipe do Village People.
Em outro momento do filme, há ainda a insólita combinação
de uma harpa com um guitarron mexicano.
O pessoal estava inspirado na viagem.
Mas voltando ao bar.
Lá em dado momento serve para situar a degradação
da civilização humana no universo do longa. Nele há uma roleta russa com
bebida, em que quatro participantes numa ordem escolhida pelo dono do bar, Rat
(Franco Diogene), bebem o drink na esperança de escaparem ilesos e receberem o “prêmio”,
que é o dote da inscrição de cada um dos participantes. São justamente estes
dotes que mostram o retrocesso da humanidade, cada coisa mais vagabunda. Na disputa
que acompanhamos vemos como taxa de inscrição uma caixa de rapé (cocaína), um
barbeador usado, um relógio estragado e uma escova de dentes velha.
A reação de cada um dos participantes quando
morrer são bem ridículas, você acaba é rindo de toda a cena.
Como todo filme que se preze, é necessária a
formação de uma trupe, e aqui não é diferente.
Assim, somos apresentados a Panasonic (Kiro
Wehara), sim, PANASONIC, um clérigo integrante de um monastério situado
nesta região, e que sai em uma jornada após o seu local sagrado ter sido
atacado pelos vilões do filme e o antigo líder perecer na batalha, sem antes
designa-lo para encontrar os escolhidos que o libertarão do mal que os assola.
Os integrantes deste movimento são todos telepatas,
além de possuírem outros poderes. Não me recordo de ver alguma explicação
quanto a origem deles, é capaz de ter alguma relação com o que abalou o mundo.
Obviamente os dois se encontram, e partem para
a busca do terceiro membro.
E ela é Tera (Beatrice Ring) uma
bartender escrava que atendia na taberna de Rat e por quem Swan havia
se apaixonado perdidamente ao vê-la pela primeira vez e que as reações dele com
ela neste reencontro nos faz questionar o que estamos assistindo
insistentemente em breves segundos.
Aliás, o retorno dela é um troço para lá de ridículo.
No momento em que estava para ser leiloada numa
feirinha ela surge usando óculos Ray Ban e tira eles dando aquela batida
de cabelo. Meu São Crisóstomo.
Ela é de longe a personagem mais problemática do
filme. E olha que estamos falando de um filme que os personagens são mais rasos
que uma folha de papel e que se deram ao trabalho de creditar apenas sete
deles.
Ao longo do filme vemos duas faces dela.
A primeira é quando está na companhia de Swan.
Nestes momentos ela é uma figura totalmente submissa e sem vontade própria, se
limitando tão somente a seguir cegamente ele e ficar se esfregando nele. E olha
que ele não exerce qualquer postura autoritária e de comando para cima dela.
Já a segunda é quando ele não está por perto.
Ela muda totalmente de figura, vira alguém altiva e totalmente participativa,
agindo por conta própria, tomando frente de tudo para se livrar da situação que
se encontra.
Sério, não dá para entender isto, uma total falta
de coesão.
Esse pessoal todo se juntou para combater as
forças do mal que atacaram o lugar sagrado de Panasonic e buscam o tesouro
sagrado lá escondido.
O bando que assola a região é liderado por Mantis
(Teagan Clive) e tem em Balzakan (John Armstead) o seu intendente.
Dois tipos construídos no entorno dos estereótipos
mais baratos possíveis. Enquanto Balzakan é o tipo sanguinário que só
quer saber de matar, o único destaque que carrega é um bigodinho tosco, fizeram
de Mantis uma bodybuilder, dominatrix, predadora sexual, e
que busca usar o seu corpo para conquistar o que quer.
Fora que os responsáveis pelo filme usaram ela
para extravagar uns fetiches sexuais bem esquisitos.
Como que um filme desses passava sem problemas
no Cinema em Casa?
O bando deles deve ter umas quarenta pessoas,
se trocaram algum ator durante as cenas não faz a menor diferença, porque
ninguém se importa com eles.
E com base nisso tudo que o roteiro gira, na
tentativa de proteger Interzone o tesouro lá guardado.
São quatro os nomes responsáveis por criarem
isto daqui.
Claudio Fragasso, Deran
Sarafian, Rossella Drudi e James L. Edwards.
Todos os quatro, no que se refere aos roteiros,
tiveram carreiras que refletem com exatidão o porquê de terem criado um filme
como este. O mais notável trabalho em que eles estiveram envolvidos - Claudio
Fragasso e Rosella Drudi - foi em um dos filmes do universo de Emmanuelle,
Blade Violent – I violenti (Emmanuelle - A Detenta).
Talvez esteja aí uma explicação para o porquê
das personagens de Tera e Mantis serem como são.
O filme é um festival de problemas, vai muito
além do roteiro, passa pela filmagem, atuação, trilha sonora e outras escolhas
da direção.
Direção esta que também ficou sob a responsabilidade
de Deran Sarafian.
Como diretor, desde 1998 a sua carreira sofreu
uma ascensão, estando envolvido principalmente com séries, tendo trabalhado em
alguns episódios de Buffy the Vampire Slayer (Buffy: A Caça-Vampiros), CSI:
Crime Scene Investigation (CSI: Investigação Criminal), House M. D.
(Dr. House) e Swamp Thing (Monstro do Pântano).
Como são séries que não acompanhei não dá para
saber se o trabalho de direção nos episódios para os quais foi responsável foram
bons ou não.
Porque aqui, como já falei não foi.
Houve sérios problemas na montagem. Em dado
momento, resolveram intercalar a fala dos “heróis” com a dos “vilões”. Nada
demais, só que teve um problema sério. Enquanto os heróis conversavam durante a
noite, os vilões estavam reunidos durante o dia.
É pouco provável que eles estivessem em
continentes diferentes ou mesmo em pontas diferentes de um mesmo continente,
tipo, um grupo na Rússia e o outro em Portugal.
As filmagens pareciam feitas por uma pessoa que
teve contato com uma câmera pela primeira vez, coisas aleatórias e totalmente
sem sentido eram filmadas. Closes nas latarias do carro.
Estavam querendo fazer um filme conceitual e
desistiram no meio do caminho?
Além destes momentos, havia um excessivo
interesse em ficar filmando pés. Sempre que podia, estava lá a câmera filmando os
pés dos atores enquanto andavam.
As coreografias das batalhas também eram bem
deprimentes.
Parece que saíram diretamente de um episódio d’Os
Trapalhões, dava para notar claramente que eram mal coreografadas e que os
socos sequer chegavam perto dos atores. Inclusive tinha inserções sonoras de soco
atingindo alguém. Era mesmo um quadro d’Os Trapalhões e esqueceram de
avisar!
Acaba gerando risos com tudo o que estava
acontecendo.
O que é bom, já que as cenas de comédia não
funcionam e tudo o que gera é aquele ar sem graça de incredulidade.
Não podemos esquecer da trilha sonora, parece que
a grana estava curta por conta de todos os outros investimentos que fizeram na
produção do filme (só que não) e só tiveram condições de arcar com três composições,
e duas repetiam toda hora o que provocava aquela irritação de não aguentar mais
escutar elas.
Para não falar que o filme só tem defeitos,
vamos há alguns elogios. Dois para ser mais preciso.
O primeiro deles são quanto as cenas externas.
Foi um acerto bom de verdade. Ficaram muito boas mesmo, e a sensação que
passou, foi que o filme foi gravado no interior de Minas Gerais. Infelizmente nas
raras vezes que os cenários internos se fizeram necessários seguiram o resto do
padrão do filme.
O outro elogio fica por conta de duas cabras
que apareceram rapidamente no meio do filme, foram de longe a melhor atuação
que tivemos ao longo dos 97 minutos e tomaram conta da tela durante a sua
passagem.
Infelizmente não podemos dizer o mesmo dos
atores.
Parece que eles foram escolhidos a dedo entre figurantes
inexpressivos de filmes de baixo orçamento, não convencem ninguém e abusam de
atuações caricatas de ruim. Neste aspecto Mantis estava com uma atuação
bizarra.
Tiveram um ou outros efeitos especiais e que
seguiram o padrão de qualidade que permeou todo o filme.
Houve ainda um excessivo desperdício de gêneros
alimentícios.
Não lembro de ter visto ao menos uma criança no
filme, o que faz até muito sentido, já que não devemos expor elas à ambientes
insalubres. E aqui a insalubridade saltas aos olhos.
Teve uma estranha coincidência com o roteiro de
Indiana Jones and the Kingdom of the Crystal Skull (Indiana Jones e o
Reino da Caveira de Cristal) certa hora que me deixou incomodado e triste.
Sorte teve o Reino Unido, que recebeu uma versão
onze minutos mais curta disso daqui.
O outro personagem creditado é Dwarf (Alain
Smith), acho que é o sujeito que tenta emular o Igor do Drácula.
Por que tanto couro num calor daqueles?
O que passou na minha cabeça em 1997 para
querer assistir a este filme?
O Relâmpago de Zeus!
Fica aí fingindo que não gostou do filme pra bancar o cult, mas assistiu o filme mais de uma vez em 2 dias e não parava de me ligar pra falar "que filme foda! boto minha carreira em risco por ele!"
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