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PERCY JACKSON E O LADRÃO DE RAIOS


Dados Técnicos:

Nome Original: Percy Jackson & the Olympians: The Lightning Thief
Ano de Produção: 2010
Duração: 118 minutos
Gênero: Aventura, Família, Fantasia
Formato: Longa metragem


Com: Logan Lerman, Alexandra Daddario, Brandon T. Jackson, Jake Abel, Sean Bean, Pierce Brosnan, Steve Coogan, Rosario Dawson, Uma Thurman


Se a segunda década do Século XXI pode ser definida como a “Década dos Super Heróis”, muito por conta do trabalho desempenhado pelo Marvel Studios em suas produções, em que os espectadores superaram aqueles que comumente só consumiam os quadrinhos, a primeira década deste século também teve os seus donos.

E ela pertenceu às adaptações literárias.

Tal fenômeno foi iniciado, liderado e comandado por dois mega sucessos em termos editoriais, os ingleses The Lord of the Rings (O Senhor dos Anéis) e Harry Potter ainda no ano de 2001.

Curiosamente os dois saindo pela Warner Bros., ainda que The Lord of the Rings tenha saído pela sua subsidiária, New Line Cinema.

Por conta do avassalador sucesso alcançado pelas duas produções logo os demais estúdios também partiram à caça de outras propriedades que pudessem ser adaptas para as telas de cinema.

A grande maioria das produções, entretanto, acabaram se convertendo em retumbantes fracassos e nem de longe deram os retornos esperados e imaginados pelos estúdios. Alguém aí lembra de Eragon ou The Golden Compass (A Bússola de Ouro)?

O segundo, inclusive, fora uma nova investida da New Line Cinema.

A Walt Disney Pictures chegou a participar do projeto de The Chronicles of Narnia (As Crônicas de Nárnia), limitando-se aos dois primeiros filmes, se retirando do terceiro filme, que acabou sendo assumido pela Twentieth Century Fox, mas infelizmente não obteve o retorno esperado.

O que acaba sendo uma pena, afinal, a obra de C. S. Lewis é muito boa e merece uma grande chance.

Voltando aos dois pilares e forças dominantes desta Era. O papel dos dois filmes pode ser medido em números.

Enquanto a parte final de The Lord of The Rings: The Return of the King (O Senhor dos Anéis: O Retorno do Rei) conquisto onze estatuetas do Óscar, incluindo de Melhor Filme, Melhor Diretor e Melhor Roteiro Adaptado, o universo de Harry Potter teve o seu sucesso de público, conquistando o posto de terceira “franquia” de maior bilheteria dos cinemas, atrás apenas de Star Wars, em segundo lugar, e do Marvel Cinematic Universe (Universo Cinematográfico Marvel), dono da cabeceira da tabela.

E enfim chegamos ao universo de Percy Jackson.

Muito embora o primeiro livro da série tenha sido lançado tão somente no ano de 2005, a Twentieth Century Fox, antecipando-se a futuros concorrentes, ainda em 2004 adquiriu os direitos para a adaptação cinematográfica das séries de livros.

Tive a oportunidade de ler os livros da série Percy Jackson e os Olimpianos no ano de 2014 e por conta disto, tive o primeiro contato com The Lightning Thief (O Ladrão de Raios) em sua versão live-action, e pude notar como a qualidade apresentada entre livros e filmes é gigantesca.

De cabeça, entre os materiais que já tive a oportunidade de comparar, acredito que tão somente em The Dark Tower (A Torre Negra) tenha apresentado uma discrepância tão grande.

(Em livros, porque tem uma outra aí que vou falar...)

E quanto ao filme?

A cena pré-créditos em que mostra um gigantesco Poseidon (Kevin McKidd) saindo dos mares derruba totalmente a imponência que tentaram passar no final do filme, o que já é uma amostra de todo o problema de coesão da obra. Fora que representa uma própria violação ao lore da série, em que há a figura da “névoa”, uma força sobrenatural que impede os mortais de verem as criaturas místicas e que embora ignorado neste primeiro filme, é explorado no segundo.

Logo de início os fundamentos da narrativa são construídos e você já sabe o que esperar, só resta saber quem.

O que quebra o papel do descobrir e a ideia da aventura envolta.

Poseidon saiu de seu reino e foi em direção Olimpo para reunir-se com Zeus (Sean Bean), que o acusa, através de sua prole, de ter roubado seu Raio-Mestre e fixa o prazo de 14 (quatorze) dias para a devolução, senão haverá uma guerra entre os irmãos.

Não era preferível deixar esta parte nebulosa? E ao invés disso aproveitar uma cena em específico no acampamento para enfim revelar o objeto furtado?

Enfim, perguntas que ficam ao ar e mostram o que poderia ser mais bem aproveitadas.

O principal “mistério” da primeira parte do livro, envolve a ascendência divina de Percy, algo que acabou sendo colocado de lado, e desde o começo a sua ancestralidade é reconhecida e referendada por todos.

Aparentemente os responsáveis pelo filme devem ter adotado esta escolha porque ela supostamente garantiria uma maior agilidade à trama (visto que ela leva duas horas de projeção e tinha muita coisa para ser exibida) e esta decisão acabou se refletindo em ruídos ao longo de todo o roteiro.

Teria sido bem melhor aproveitar o tempo gasto na conversa envolvendo Poseidon e Zeus para construir esta revelação. Não faz sentido um diálogo expositivo de “estamos no Empire State Building” se nos primeiros minutos é revelado que lá é o Olimpo na ficção Riordiana.

Pois bem, Percy Jackson (Logan Lerman) é um adolescente que vive na companhia de sua mãe, Sally Jackson (Catherine Keener) e seu repugnante padrasto Gabe Ugliano (Joe Pantoliano).

Como todo bom adolescente, ele sente-se deslocado no mundo. Ainda mais por saber que ele e a mãe foram abandonados pelo pai, e ela hoje vive com um sujeito asqueroso como Gabe, sem que ele consiga entender o porquê.

Além disso, Percy é diagnosticado com Dislexia e Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade, motivo pelo o qual se retrai ainda mais e conta tão somente com a amizade de Grover (Brandon T. Jackson).

Aqui abre-se outro parêntese para uma falta de coesão no roteiro.

Em dado momento de uma conversa entre Percy e Sally ele menciona sobre estar se adaptando em uma nova escola. Só que ao mesmo tempo ele já demonstra intimidade com Grover. Em nenhum momento é falado se ele também mudou de escola com Percy ou outro motivo. Não lembro se esta dissonância existia nos livros.

O que o nosso jovem guerreirinho acreditava ser uma vida monótona e medíocre em Nova Iorque, é jogada de pernas para o ar durante uma visita ao museu.

Ele descobre que sua estranha professora, Senhora Dodds (Maria Olsen), é na realidade Alecto, uma das Fúrias, e que estava atrás do Raio-Mestre de Zeus.

Por conta deste quiproquó as cortinas que sobre a sua vida vão se desfazendo e a realidade é exposta, e que ele era constantemente vigiado e protegido, tanto por Grover, que na realidade é um sátiro e seu protetor pessoal (júnior), quanto seu professor de latim, Senhor Brunner (Pierce Brosnan), o mitológico Quíron.

A partir daí, o arcabouço mitológico grego passa a ser introduzido perante a realidade do Século XXI nos Estados Unidos, com direito a um Minotauro que rapta Sally e lança vacas.

A primeira parada do herói é em um acampamento destinado aos filhos dos deuses, o Acampamento Meio-Sangue. Ele toma conhecimento de que existem mais do que eles e de que tanto a Dislexia quanto o Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade são reflexos de sua origem divina.

Lá ele é acolhido por Luke Castellan (Jake Abel), filho de Hermes, e aparentemente o veterano do lugar.

E é aqui também que as duas versões começam a se distanciar, gerando os já mencionados ruídos ao longo de todo o filme.

Enquanto para o filme Percy é o filho de Poseidon, nos livros ele é o filho de um deus que nunca o reivindicou, e, é tratado como um qualquer por conta disso.

E é daí que vem toda a surpresa e reflexos por conta da sua linhagem sanguínea na reação dos demais meio-sangue durante a competição de rouba-bandeira, pois é naquele momento nos livros que Poseidon o reivindica e que ele usa os seus poderes pela primeira vez.

Ou seja, há toda a perda do impacto que representa o filho de um dos três grandes deuses aparecer.

Ao menos os cenários nesta parte são exuberantes, e compensam a falta de coesão narrativa, escolheram muito bem o local para funcionar o acampamento.

E por saber escolher muito bem, temos ela. Alexandra Daddario, que acerto dos responsáveis por escalar o elenco. Se fosse só ela admirando o nada, o filme levaria um dez com louvor.

Muito embora se diferencie visualmente da Annabeth Chase original, quem liga?

Annabeth que é filha de Atena.

Aproveitando-se da rivalidade mitológica existente entre Poseidon e Atena, tentaram criar inicialmente uma relação conflituosa entre os dois, que depois se transforma em algo mais “romântico”.

Annabeth tsundere?

Mas parando para pensar, da forma brusca como foi feita esta mudança de tom, fica estranho.

No original a rivalidade era com outra meio-sangue, Clarisse La Rue (Leven Rambin), filha de Ares, e depois você fica se perguntando, “Quem é essa aí?” quando ela aparece rivalizando com Percy.

Neste mundo mágico impera uma Lei em que os deuses não poderiam ter qualquer contato com os seus filhos de meio-sangue, e por conta disto eles nunca tiveram qualquer contato com seus genitores sagrados.

O último dos grandes deuses a aparecer é Hades (Steve Coogan), quando ele surge, revela que está com Sally e que a libertará, caso Percy entregue o Raio-Mestre de Zeus.

Daí em diante o filme se transforma em uma road trip.

Percy na companhia de Grover e Anabeth (começaram o dia como rivais, na hora da janta já são amiguinhos) resolvem sair em jornada para resgatarem Sally.

Para isso eles devem atravessar os Estados Unidos recolhendo as Pérolas de Perséfone, que seriam a única forma de escaparem do Mundo dos Mortos, no caminho encontram algumas criaturas mitológicas, como a Medusa (Uma Thurman).

Esta jornada serviria para estreitar os laços entre Percy e Annabeth, e mais uma vez só foi arranhada na superfície a relação desenvolvida entre os dois.

Perséfone (Rosario Dawson) é uma personagem exclusiva do filme, e é retratada como uma adultera frustrada no casamento.

Com isso, já se torrou uns 80% (oitenta por cento) de filme, e como não há muitos personagens, dá para se ter uma ideia do que está acontecendo. Então não há muita surpresa quando o ladrão é revelado.

A motivação era reconhecimento e pertencimento, visto que sempre foram “rejeitados” por conta da Lei do Afastamento imposta.

As escolhas sobre este tipo de abordagem talvez dariam mais certo em um filme que fosse só uma história sobre adolescentes obrigados a lidar com algum dos seus genitores ausentes, enquanto passam por todo aquele processo de amadurecimento e entendimento de si próprio.

Assim, vemos um filme competente para passar o tempo, mas que poderia ter sido muito maior.

Inevitavelmente as comparações com Harry Potter acabam acontecendo.

E não tem como, afinal, o escolhido para dirigir este projeto foi Chris Columbus, nada mais nada menos que o responsável pelos dois primeiros filmes da saga do bruxo inglês, The Sorcerer’s Stone (A Pedra Filosofal) e The Chamber of Secretes (A Câmara Secreta), mas não conseguiu repetir aqui o mesmo brilhantismo.

Muito embora tenha contato com um elenco de apoio composto por vários nomes consagrados, o dinheiro não foi o mesmo do que aquele investido pela Warner Bros. nove anos antes.

Enquanto Harry Potter and The Sorcerer’s Stone (Harry Potter e a Pedra Filosofal) contou com um orçamento foi de US$ 125 milhões, Percy Jackson & the Olympians: The Lightning Thief (Percy Jackson e o Ladrão de Raios) teve disponibilizado US$ 95 milhões.

E levando-se em consideração a diferença de anos entre os dois projetos a diferença de valor investido se mostra ainda maior.

Só que o principal problema foi quanto à adaptação, ou seja, o roteiro do filme.

Não soube fazer o mesmo trabalho que a contraparte britânica.

Todas as mudanças feitas sobre a obra original geraram reflexos em cadeia que acabaram comprometendo o todo, falas originais mantidas que perdem o sentido por conta das adaptações ocorridas.

O roteiro, principal assunto desta vez, ficou sob os cuidados de Craig Titley, que foi o roteirista da primeira adaptação em live-action de Scooby-Doo e do primeiro Cheaper by the Dozen (Doze é Demais).

É... Dá para entender algumas coisas disso.

Um dos principais pontos envolvendo o universo de Percy Jackson são as profecias. Cada livro conta com uma delas e é extremamente importante para compreender todo o universo e diversos pontos que foram deixados de lado aqui.

Além disto, a Lei que impera nesta realidade, não é aquela que afasta os pais de seus filhos, mas a que impede os três grandes deuses de terem filhos, já que eles são extremamente poderosos.

E Hades é meio que revoltado por ter sido o único a seguir ela direitinho.

Toda esta questão gera questionamentos sobre que tipo de controle criativo os autores podem e devem ter sobre suas obras.

J. K. Rowling é famosa pelo controle que exerce, o que levou ainda na fase de concepção do primeiro filme a afastar Steven Spilberg do projeto, já que o diretor pretendia fazer significativa mudanças no roteiro original.

O que anos mais tarde ele reconheceu ser uma grande bobagem as ideias dele.

Ainda bem. E ainda bem que não foram para frente com as ideias dele.

Algo que acabou não acontecendo por parte de Rick Riordan, o que levou ao resultado que conhecemos. Algo que poderia ter sido muito maior do que foi.

Voltando ao aspecto orçamentário, boa parte dele acabou sendo gasto com os efeitos visuais.

A grande maioria, como a criação das criaturas mágicas, e mesmo os cabelos de Medusa, até que ficaram bem feitos, mas parece que para o final do filme o dinheiro começou a fazer falta e a coisa de uma caída em termos de qualidade.

Tanto que o Mundo dos Mortos passa uma clara sensação de ter sido feito por uma computação gráfica bem desajustada, e os cães infernais são muito, muito feios e não passam qualquer sensação de serem criveis (e olha que estou falando de CÃES INFERNAIS). Algo que, por exemplo, não acontece com o Minotauro.

Tem ainda os efeitos envolvendo as águas, nossa, ali foi feito bem pelas coxas. Reconheço que conseguir animar água é algo complexo, mas poderia ser feito com mais zelo.

Quanto a trilha sonora, optaram por usar elementos típicos da cultura americana.
Apesar de tudo, o filme ainda conseguiu gerar algum lucro, tendo atingido uma receita de US$ 202.247,751, o que garantiu uma sequência.

Que serviu para duas coisas.

Mais uma oportunidade de vermos Alexandra Daddario, e enterrar de vez a franquia.

Será que algum dia irá acontecer um reboot com um trabalho mais cuidado com a obra?

Só o futuro dirá.


Autobots! Transformar!

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