Dados Técnicos:
Nome Original:
Dragonball Evolution
Ano de Produção: 2009
Duração: 85 minutos
Gênero: Ação, Aventura, Família
Formato: Longa-Metragem
Com: Justin Chatwin, James Marsters, Yun-Fat
Chow, Jamie Chung, Emmy Rossum, Eriko, Randall Duk Kim, Ernie Hudson
Ser obrigado a lembrar deste filme é
lamentável, seria tão bom se os neuralizadores de Men in Black (MIB -
Homens de Preto) fossem uma realidade para não ter um mecanismo de suprimir a
existência de Dragonball Evolution.
Que coisa terrível foram capazes de fazer, além
de sujeitar os espectadores a quase uma hora e meia do mais profundo tormento. Queria
eu não ter que lidar com o fardo de assistir a esta película depois de dez anos.
Ninguém mandou eu inventar isto, agora tenho
que lidar com as consequências.
Poderia escrever páginas e mais páginas sobre Dragon
Ball (sim, até com o nome fizeram lambança), afinal, é uma série que gosto
muito e tenho um carinho especial, mas o foco aqui é o crime cometido na tela
de cinema, então vamos resumir esta parte.
Dragon Ball foi uma série em mangá
publicada originalmente nas páginas da Shūkan Shōnen Janpu (Shonen Jump
Semanal) da editora Shueisha tendo durado de 1984 até 1995, e rendido ao
longo de seus 519 (quinhentos e dezenove) capítulos um total de 42 (quarenta e
duas) edições encadernadas em sua versão “tradicional” (tankōbon).
Quando de seu início, seu autor Akira
Toriyama adotou como pano de fundo o romance mitológico chinês Xī Yóu Jì
(Jornada ao Oeste) que conta a jornada do monge Xuanzang rumo à Índia
atrás de escrituras sagradas budistas, em que teve a companhia de vários seres
místicos, entre eles o Rei Macaco Sun Wukong.
Ocorre que a ideia de Akira Toriyama acabou
cresceu tanto, que o universo criado por ele ganhou contornos próprios e assim
fugiu da lenda que inspirou a sua criação.
O sucesso de Dragon Ball nos mangás logo
rendeu uma adaptação para anime, que ficou a cargo da Toei Animation, ela
optou por dividir a série original em duas. Dragon Ball, focada na
infância e adolescência do protagonista Son Goku, e, Dragon Ball Z,
sendo esta voltada para a vida adulta do protagonista.
Além destas, houve outras duas adaptações
exclusivas para a televisão, sendo ambas focadas em eventos pós Z. Dragon
Ball GT de 1996 e Dragon Ball Super de 2015.
Dragon Ball contou ainda com
vários filmes e especiais para televisão, sendo os especiais os únicos que não
saíram oficialmente por estas bandas.
Quando ao live-action desastroso, as
primeiras informações sobre ele surgiram ainda no ano de 2002 no arrasto do
forte sucesso alcançado por Dragon Ball Z nos Estados Unidos a Twentieth
Century Fox logo comprou os direitos para o cinema da franquia, o que logo empolgou
um inocente Eduardo no auge dos seus treze para quatorze anos com a notícia
sobre Dragon Ball virar um filme.
Até o poster falso feito naquela época foi mais
animador do que o oficial.
Os anos passaram sem que qualquer notícia nova
sobre a adaptação fosse divulgada, até que em algum momento entre o final de
2006 e o primeiro semestre de 2007 logo começaram a pipocar informações sobre a
adaptação, e a cada notícia sobre os bastidores da produção, o desespero só
crescia.
Como odeio Dragonball Evolution.
O longa é um desastre total, e tira qualquer um
do sério. Até o lançamento de Justice League (Liga da Justiça) em 2017
tinha sido o único que tive vontade de ir embora durante.
O principal responsável pelo resultado tem nome
e sobrenome Ben Ramsey, o roteirista do filme. Ele demorou oito anos
para reconhecer a sua responsabilidade e pedir desculpas pelo ocorrido.
Não sei o local em que os produtores foram
buscar este homem, porque ele conta com outros três roteiros creditados, sendo
que dois são de filmes que ele mesmo dirigiu e produziu.
Tenho até medo de imaginar que locais ele andou
pesquisando (se é que ele pesquisou algo) para se “inspirar” a escrever um
roteiro tão pouco aproveitável.
Passa a sensação de que ele pegou um roteiro
genérico de comédia adolescente que já tinha pronto e saiu reescrevendo alguns
trechos com termos do universo de Dragon Ball que ele encontrou após
rápida pesquisa pela internet.
É fácil de entender que aquele universo criado
por Akira Toriyama não é facilmente adaptado para uma produção live-action,
ainda mais com todas as limitações orçamentárias que um projeto não prioritário
de um estúdio conta.
Só que não custa nada entender sobre o que está
escrevendo, é algo fundamental para tentar adaptar para uma nova realidade, e
assim manter a proposta imaginada pelo criador original.
Por conta disto é importante saber que a
jornada de Son Goku é marcada por ser uma aventura fantástica, em que
ele vai descobrindo todo um mundo novo a sua volta.
O personagem criado por Akira Toriyama é
uma criança doce e inocente de doze anos que vive isolado em uma montanha tendo
até então contato apenas com o seu avô Son Gohan que havia falecido
muitos anos e após a entrada em cena de Bulma que o horizonte daquele
garoto se abre para todo um mundo e mais.
Mas em Dragonball Evolution não temos
nada disso, o Son Goku (Justin Chatwin) desta versão é um colegial bobo
que parece saído de alguma figuração de Malhação ou daqueles filmes
colegiais lançados aos montes e que ninguém se importa.
E este é um Goku que ninguém se importa,
ele é chato e fincado no lugar comum, tanto que ele tem um forte desejo de se
enquadrar na sociedade e conquistar alguma garota; em certa altura resolve
impressionar a sua colega de sala Chichi ao abrir o armário dela com ki
(cujo resultado final é aquela patetice que se pode imaginar), fora fantasiar
ela comendo morangos num campo de girassóis, assistindo aquilo no cinema fiquei
com uma tremenda vergonha alheia e não sabia onde enfiar a cara.
Juro que tentei entender qual era a da Chichi
(Jamie Chung) neste filme, e a atriz parecia tão perdida quanto a personagem.
Ela surge como uma patricinha que andava com o bulidor Carrey Fuller
(Texas Battle) aparentando não se importar com nada e após Goku se
mostrar para ela, passa a demonstrar interesse por ele, convidando para sua
festa e flertando com ele (tudo isto no mesmo dia!).
Ao arquétipo da líder de torcida que anda com o
quarterback do time de futebol americano e do nada passa a notar o
patinho feio da turma!
A relação dela com Goku se desenvolve de
uma forma para lá de estranha, eles devem ter se visto umas cinco vezes ao
longo do filme (que se passa no espaço de sete dias) e nestes encontros só na
festa que houve espaço para uma conversa a mais do que aquela mostrada em tela.
A ideia central do filme gira ao entorno da
lenda que envolve o retorno do maligno Piccolo (James Marsters) um namekseijin
que atacou a Terra milhares de anos atrás na companhia do seu fiel escudeiro Oozaru
(Ian Whyte) e só foram detidos após o sacrifício de vários sábios que o
aprisionaram em um recipiente mágico.
Eles devem ter repetido ao menos umas três
vezes o diálogo sobre a ameaça que Piccolo representa para humanidade, a
narração em off de Son Gohan (Randall Duk Kim) é repetida letra
por letra por Kame (Yun-Fat Chow) quando ele se encontra com Goku
e Bulma (Emmy Rossum).
Por falar em repetições intermináveis, como aconteceu
isto também quanto a Shenlong, e o pior, repetiu, repetiu, repetiu e não
explicou nada, se eu não conhecesse a história e soubesse quem é ele teria
terminado o filme com um “que p... é essa?”
Ah, Shenlong é o dragão mágico que para
ser conjurado precisa da reunião das sete Esferas do Dragão e de algumas
palavras mágicas. No filme deram toda uma solenidade desnecessária para o
processo.
O “grande segredo” do filme é jogado toda hora
na tela, e só sendo alguém muito desatento para não entender o que está
acontecendo e se surpreender no terceiro ato.
Em nenhum momento é explicado em que contexto
que se deu o retorno de Piccolo, se foi por conta do eclipse que se
aproximava, ou se alguém encontrou o recipiente mágico em que ele estava aprisionado
e o libertou.
Ele é apenas largado na tela, atacando lugares
sem nome, com um vasto poder bélico e na companhia de Mai (Eriko Tamura)
- que só sei o seu nome porque acompanhei a pré-produção do filme e o anúncio
dos atores -.
Afinal quem é Mai? Como ela se juntou a Piccolo?
Por que a sua única fala é no final do filme e repetem o take antes e
depois dela falar?
Bastava uma linha de diálogo entre os dois para
explicar isto, mas não, tinham que ficar repetindo o perigo que Piccolo
representa toda hora.
Mas há um motivo para terem que ficar repetindo
toda hora isto, pois trata-se de um vilão fraco de personalidade e que não é
nenhum pouco aterrorizante.
E roteirista e diretor são incapazes de mostrar
isto, é mostrado dois locais diferentes sendo atacados com grande destruição,
só que não acontece nenhuma repercussão no mundo ou mesmo local destas
destruições, as pessoas seguem a vida como se nada estivesse acontecendo.
Se elas não se preocupam não será o espectador
que vai se preocupar.
Outra coisa com relação ao Piccolo é que
sempre que ele aparecia, passava a sensação de estar em uma realidade
totalmente diferente do filme, com o céu parecido que saiu de um programa de
edição.
A Bulma (Emmy Rossum) desta versão encontra-se
alheia da lenda que envolve as Esferas do Dragão (no original é justamente o
contrário, todos são alheios a lenda e cabe a Bulma apresentar a todos) sendo
apresentada a ela pelos demais personagens, além de produzir um Radar do
Dragão bem ineficaz, sendo capaz apenas de identificar uma esfera quando
ela estiver próxima.
A sorte dela é que existe um roteiro para lá de
preguiçoso e calhava de ter uma esfera sempre próxima de onde eles iam.
E quando falo que o roteiro é preguiçoso, é
porque ele é muito preguiçoso.
Em dado momento os personagens caem num buraco
no meio do nada, e o radar do filme começa a apitar informando que tem uma
esfera por perto, eles resolvem escavar dentro do buraco e param numa enorme área
vulcânica. Não faz o menor sentido a forma como foram parar lá.
Sério, este roteiro dá agonia.
A motivação que deram para ela ir atrás das Esferas
do Dragão é totalmente diferente, enquanto no original ela queria um namorado,
aqui ela quer é ser famosa, sendo que é a filha do proprietário da maior empresa
do planeta, tem P.H.D. e é inventora na empresa. Sério, se ela não é famosa por
tudo isto precisaria mais do que?
O roteiro não tem o menor compromisso interno.
Kame (Yun-Fat Chow) é de longe a
melhor coisa do filme - não que seja algo muito difícil, dado o baixo nível
geral -, e é aquele que mais se aproxima da versão original (é recorrente nas
comédias adolescentes um tiozinho tarado?). O ator é muito bom, e coloca todos
os outros no bolso. Mesmo com todos os inúmeros problemas do roteiro demonstra
uma leveza e total despreocupação, não se levando a sério e apenas se
divertindo no meio de toda aquela zona.
Óbvio que tem horas que não dá para se salvar,
como naquelas oportunidades em que era sujeito a fazer movimentos sem sentido
com os braços para usar alguma técnica ou na hora de contar histórias.
Uma das coisas mais legais que envolvem Kame
são os seus treinamentos, que fogem totalmente do usual para o que se espera de
artes marciais, aí no filme eles fazem o que? Apostam justamente no contrário,
com um treinamento tedioso e despropositado apostando na repetição de uma fórmula
batida.
E o que fizeram com a mais icônica técnica da
série? Mesmo no meio do lixo tóxico que foi este filme existia uma ansiedade
para o Kamehame-ha, que aqui foi submetido a ser uma espécie de “técnica
suprema” do elemento ar.
Acho que o roteirista deveria estar assistindo
muito Avatar: The Last Airbender (Avatar: A Lenda de Aang) na hora que
escreveu o roteiro, pois introduziu a ideia de que existirem elementos (três ao
todo, rebaixaram a terra e esqueceram de comunicar) e que os lutadores deveriam
ser dobradores deles. E só falam isso também, na sequência ignoram totalmente
água e fogo.
E o Kamehame-ha serve para qualquer
coisa neste roteiro idiota, até mesmo para reanimar pessoas.
Ao menos mantiveram a relação de mestre/discípulo
entre ele e Son Gohan, muito embora este aparente ser muito mais velho
do que seu mentor. E coitado dele no meio disto tudo, apesar de ser fortemente
ligado ao seu neto é facilmente suprimido ao longo do filme, além de gerar
questionamentos quanto a uma escolha final.
No meio para o final do filme ainda aproveitaram
para enfiar o Yamcha (Joon Park) no filme. E que presença mais do que desnecessária,
a única justificativa plausível para terem colocado ele, era para dar um par romântico
para Bulma, e ela nem estava atrás de um.
Ele é um inútil no filme (más línguas dirão que
nem só lá) e não serve para nada, ocupando um espaço totalmente desnecessário.
Fora a composição do personagem, que é um
horror a parte, parece uma mistura de bicheiro com camelô dos anos 1990, além
disto o ator resolveu empregar uns maneirismos na voz e o personagem ficou
parecendo um mano americano.
Acho que ele errou bem o alvo que mirou.
No meio disto tudo, teve tempo ainda para um
torneio de artes marciais, o tal Toi Son (ao invés do clássico Tenkaichi
Budokai) que também não serve para nada, só para reforçar as coincidências estupidas
do roteiro, já que é no templo em que Kame treinou, em que a técnica que
selou Piccolo no passado foi criada, acontece justamente ao mesmo tempo da
ameaça de Piccolo e é próximo ao único local em que Shenlong pode
ser invocado.
Ernie Hudson também está no filme,
fazendo uma rápida participação como o mestre Sifu Norris, mais um
personagem exclusivo desta bagaça, e não teve a oportunidade de mostrar a que
veio.
Se houvesse um torneio de roteiro com o maior
número de coincidências estúpidas ele briga forte para o primeiro lugar.
Por falar em briga, as lutas são qualquer nota.
Uma das grandes marcas do universo de Dragon
Ball são as lutas, qualquer um que vire fã da série se amarra na porradaria
que come solta entre os personagens.
No filme, além delas terem ocorrido umas três vezes
(acho que contei certo), o direto James Wong mostrou a menor habilidade
para retratar ela, apelando para inúmeros cortes, que só serviam para tentar
mascarar a pouca crivilidade delas.
E a luta final é um show de horrores, na luta,
nos (d)efeitos especiais, nas atuações.
James Wong é um diretor com
poucos filmes na carreira, se destacando pelo primeiro e terceiro filmes da franquia
Final Destination (Premonição). A maior parte dos seus trabalhos é
voltado para produção de séries. Faço a menor ideia dos motivos que levaram a
escalação dele. Será que é por ele ser fã de Dragon Ball e ter pedido
muito por esta chance?
A descaracterização de vários personagens e
elementos do universo também deve ser depositada em sua conta, afinal, é ele
quem dá vida ao roteiro.
Afinal, aquele Yamcha é coisa dele, a
opção por um Piccolo que parece filho do Batman com o Maskara,
fora todo o mundo em que se passa o filme.
O clássico quimono usado por Goku foi montado
com peças totalmente aleatórias, e é facilmente encontrado em mercados alternativos
produtos de melhor qualidade.
Quando Dragonball Evolution ainda estava
em desenvolvimento começaram a surgir notícias de que outros animes também
ganhariam adaptações, como Akira e Neon Genesis Evangelion, por
conta desta tranqueira os projetos nunca ganharam a luz do sol, muito embora vez
ou outra surjam notícias envolvendo Akira, como a mais recente que
ligava o diretor Taika Waititi.
Apenas mais recentemente que os estúdios americanos
voltaram novamente os olhos para as produções nipônicas, em 2017 houve o xexelento
Death Note enquanto em 2019 o agradável Alita: Battle Angel
(Alita: Anjo de Combate).
O filme foi um prejuízo sem tamanho, os custos
do filme não foram revelados, mas fontes diversas informam valores que vão de
30 milhões de dólares até 100 milhões de dólares. A bilheteria alcançada pelo
filme ficou na casa dos 57 milhões de dólares, além das críticas pesadas.
Se confirmados os tais cem milhões de orçamento,
só quero saber onde que enterraram todo este dinheiro.
O maior feito do filme foi não ter ganho
nenhuma indicação ao Framboesa de Ouro.
Algo que lembrei agora. Porque diabos Piccolo
queria as Esferas do Dragão?
Eles tinham a expectativa de fazerem ao menos
duas continuações, tanto que o filme conta com uma cena pós-créditos.
Quebraram a cara bonito. Como acharam que uma
coisa destas poderia dar certo?
Que arrependimento de ter gastado dois reais no
ingresso do filme.
Indo em uma nave espacial, somos tão bons em
ser maus
O cara assistiu a Dragonball Evolution umas 5 vezes, já fez 3 resenhas diferentes e vem falar que não gosta do filme? Que hipócrita! é mais um filme que Eduardo ama mas finge odiar para tentar parecer sensato.
ResponderExcluir