Dados Técnicos:
Nome Original: Spaceballs
Ano de Produção:
1987
Duração: 96 minutos
Gênero: Aventura, Comédia,
Sci-Fi
Formato: Longa-Metragem
Com: Mel Brooks, John Candy, Rick Moranis,
Bill Pullman, Daphne Zuniga.
O Intercine
faz falta, afinal, as suas opções eram bem diferentes daquelas exibidas na Tela Quente ou na Sessão da Tarde. E é uma pena que eu não tenha conseguido
aproveitar bem o seu cardápio de filmes por conta do seu horário pouco convidativo
para uma criança.
Desta maneira foram poucos os filmes que pude
acompanhar, conseguindo me lembrar de apenas dois, este Spaceballs e Stepmonster
(Minhas Madrasta é um Terror), e olha que este último só consegui recordar do
nome graças aos filmes que assisti aqui.
Quanto a Spaceballs,
trata-se de uma paródia, que muito embora tenha se popularizado - até de
maneira excessiva - com o primeiro Scary
Movie (Todo Mundo em Pânico) é um estilo de fazer cinema bastante comum e
tradicional na indústria cinematográfica, tanto que por aqui já passaram Battle Beyond the Stars (Mercenários da
Galáxia), que foi uma mistura das Óperas Espaciais com Seven Samurai (Os Sete Samurais) de Akira Kurosawa, e, Attack of
the Killer Tomatoes! (O Ataque dos Tomates Assassinos) com o cinema de
horror.
Alguém com um humor mais pesado poderia apontar
ainda Dragonball Evolution, como
sendo uma paródia de filme.
De uma maneira em geral as paródias de filmes
que conseguem serem boas são incrivelmente raras, sendo possível contar nos
dedos aquelas produções que conseguiram alcançar um resultado digno capaz de
entreter o público a partir de uma história coesa e digna.
Infelizmente a regra geral para o gênero são
produções paupérrimas tanto do ponto de vista de roteiro quanto da escalação de
atores (não precisa ficar melindrado Dragonball
Evolution não estou falando de você desta vez), apresentando
resultados patéticos e incapazes de transformar o filme em algo minimamente
assistível e agradável para o espectador.
Por sorte Spaceballs
foge totalmente deste estigma que marca o gênero, e muito disto se deve aos
seus idealizadores - os quais falarei mais adiante - que sabiam exatamente o
que estavam fazendo.
Desta forma, a meu ver, o longa ocupa o topo
do pódio na lista dos filmes de paródia, sabendo aproveitar em seu enredo muito
bem o maior fenômeno cultural surgido no último quarto do Século XX que foi Star Wars, além de conter aqui e ali
referencias a outras produções de sci-fi.
Contando com a Ópera Espacial de George Lucas como plano de fundo, os três
primeiros filmes (e únicos até então lançados) serviram de base para a
construção da ideia de “universo” deste, em que o Império Galáctico dá lugar aos Espaço-Bolas.
O trabalho alcançado pelos realizadores no
longa-metragem é notável, conseguiram construir uma trama extremamente coesa,
divertida, que ri das convenções do gênero, e nenhum pouco cansativo ao longo
de mais de noventa minutos de projeção, contando com personagens carismáticos e
que despertam simpatia junto ao público.
Tal qual sua inspiração, somos apresentados
ao plot do filme logo em seu letreiro
inicial, onde descobrimos que os Espaço-Bolas
haviam consumido toda a atmosfera de seu planeta, e para continuarem a
sobreviver precisavam rapinar a atmosfera de outros planetas, e o alvo
escolhido fora o Planeta Druidia.
É diante deste cenário que somos apresentados
ao protagonista da trama, Lone Starr (Bill Pullman), um piloto espacial privado
de seu passado que vive a bordo da sua motor home espacial Eagle 5 ao
lado de seu fiel cãopanheiro Barf/Vômito
(John Candy); Lone é uma ótima mistura de Han Solo e Luke
Skywalker, carregando a jornada deste e a personalidade daquele, enquanto
que Barf é tão carismático quanto Chewbacca, tendo substituído a
imponência física dele por uma presença voltada para o desastre físico, além de
conseguir manter com maestria o ar sarcástico.
A missão deles também consiste em resgatar
uma princesa, Vespa (Daphne Zuniga), herdeira do Planeta Druidia
e que fora raptada pelos Espaço-Bolas logo após fugir de seu casamento
arranjado junto de sua robô-dama de companhia Dot Matrix (Joan Rivers
[voz]/Lorene Yarnell Jansson [atuação]).
A dupla de mocinhos é construída em torno dos
arquétipos padrões que se imagina para este tipo de situação, enquanto que Lone
é mostrado como sendo um anti-herói desleixado que está tão somente interessado
no resultado pecuniário de sua missão e assim se livrar das dívidas com Pizza
the Hutt (Dom DeLuise [voz]/Rick Lazzarini [atuação]), Vespa é
retratada como a típica menininha rica mimada pelo pai que atende todos os
caprichos dela e acha que todos devem servir aos seus interesses.
E é em meio a este choque de realidades que
vemos a relação dos dois serem construída e meio há uma crescente tensão
sexual, além de se mostrarem além de seus estereótipos originais ao longo da
jornada.
Quanto aos vilões, aqui que se encontra a
alma do filme.
Muito embora desde os letreiros iniciais
deixe claro o quão paspalhões sejam os Espaço-Bolas,
ainda causa um choque de incredulidade de como seres tão incapazes são os
principais dominadores daquela realidade, em que o nível de absurdo se reveste
no fato de seu principal artilheiro ser uma pessoa estrábica.
E é em meio a este cenário em que os vilões
são incapazes de cumprirem as básicas de atividades que somos apresentados à
dupla composta por Dark Helmet (Rick Moranis) e Coronel Sandurz
(George Wyner), dupla esta entrega os melhores momentos do longa, e quando
expandem as suas interações para outros personagens, como o Rapaz do Radar
(Michael Winslow) ou o Presidente Skroob (Mel Brooks), permite o uso de
todo humor que são capazes de produzir.
E vamos falar como é bom ver Rick Moranis atuando! Mais uma vez ele
nos presenteia com uma divertida e marcante atuação. É uma pena que ele tenha
se afastado das produções cinematográficas ao longo dos últimos anos. Tomara
que seu comentado retorno no remake de Honey,
I Shrunk the Kids (Querida, Encolhi as Crianças) se confirme.
Obviamente Dark Helmet tem a sua origem ligada a Darth Vader, sendo uma versão atarracada e cabeçuda do Lord Sith, além de controlar a Salsicha.
Enquanto que Coronel Sandurz é o militar com um sopro - leve - de racionalidade
em meio à realidade caótica dos seus pares, questionando diversas vezes Helmet se ele realmente queria seguir
com alguma ideia estupida.
A dinâmica dos dois é construída na tentativa
de capturar Vespa para assim
conseguirem chantagearem o Rei Roland
(Dick Van Patten), e é esta jornada que constrói o fio condutor da trama.
A forma como o filme de Mel Brooks é construído (trabalho este que ele também roteirizou,
desta vez na companhia de Thomas Meehan
e Roony Graham) permite uma fácil
leitura com a nossa realidade, e mesmo sendo um filme de 1987, ainda se mantem
fortemente atualizado neste aspecto.
O filme não faz questão de esconder que os Espaço-Bola são uma forte referência aos
Estados Unidos e a sua postura imperialista, que é retratada na forma como
tentam obter o ar de Druidia.
O próprio aspecto da degradação ambiental
provocado em seu planeta natal é outro deste aspecto, mostrando uma preocupação
para com a natureza ainda nos anos 1980 e cinco anos antes da ECO-92.
E é curioso notar como muitas vezes estes
aspectos podem acabar passando despercebido para uma criança - e reconheço que
quando assisti ao filme com meus dez anos não reparei nestes aspectos -, mas
são elementos que um adolescente ou mesmo um adulto conseguem perceber e
identificar (“um danadinho, saquei do que você está falando!”), além dos
momentos que o filme aproveita para tecer as suas críticas.
Um bom exemplo desta referência americana é
logo na introdução do Presidente Skroob,
quando há um plano apresentando a Cidade
Espaço-Bola, e enquanto a câmera vai se aproximando de um local que remete
ao Capitólio localizado em Washington a introdução do hino
americano é tocada.
Sutileza zero. Os realizadores sabiam
exatamente o que estavam fazendo.
Mas o filme não tem só o viés de crítica
embutido, eles também brincam - e como brincam - com a exploração mercadológica
que George Lucas adotou com Star Wars.
Um parêntese histórico.
Muito embora atualmente seja comum e
corriqueiro o lançamento de grandes produções acompanhado de produtos de todos
os tipos que se possa imaginar, esta visão de arrecadação para além dos
bilhetes de cinema era inexistente até o final dos anos de 1970, e foi
justamente com Star Wars que as
coisas mudaram de figura. Percebendo o potencial atrativo que o seu filme
poderia ter George Lucas negociou (e
arriscou) com a 20th Century Fox os
direitos sobre estes produtos (que não despertavam o mínimo interesse) e lucrou
muito com esta investida.
Agora podemos retornar à nossa programação
normal.
Novamente coube a um personagem de Mel Brooks tal função.
Desta vez temos Yougurt, um sábio que assim como Dark Helmet também domina os poderes da Salsicha e que vivia em um planeta desértico na companhia dos Dinks (Ed Gale, Antonio Hoyos, Felix
Silla, Arturo Gil, Tony Cox e John Kennedy Hayden), vivendo à custa da
exploração dos merchandisings do
filme, que iam de tudo o que se poderia imaginar, desde camisas até um lança-chamas.
O lençol que exibiram queria muito um...
Algo bem corriqueiro no filme é a quebra da
quarta parede e a plena consciência dos personagens de que eles estão dentro de
um filme.
A quebra da quarta parede proporciona um dos
momentos mais icônicos do filme, quando Dark
Helmet e Coronel Sandurz estão na
busca dos mocinhos e resolvem recorrer a uma vídeo-locadora que já continha o filme
disponível para locação (além de outros clássicos de Mel Brooks) para descobrirem onde que eles foram parar.
Ou seja, só há o que destacar no trabalho
realizado por Mel Brooks, falhas
existem - muito embora não consiga me lembrar de nenhuma agora, já que o filme
conseguiu me fisgar direito -, uma vez que não há nenhum trabalho perfeito, mas
é sempre bom voltar a ele para ver se é possível pegar mais uma nova camada de
algo que tenha ficado para trás.
Os efeitos especiais do filme ficaram sob a
responsabilidade da Industrial Magic and
Light, empresa esta justamente criada por George Lucas quando de Star
Wars, uma vez que não existia à época uma tecnologia que atendesse aos seus
anseios, então, o trabalho é irretocável, muito embora possa parecer datado
quando observado com os olhos de 2020.
Como já exposto, tanto a direção quanto o
roteiro ficaram sob a batuta de Mel
Brooks, que é um mestre do humor. Muito embora conte com apenas onze filmes
no currículo de diretor, vários deles se tornaram clássicos, como Blazing Saddles (Banzé do Oeste), Young Frankenstein (O Jovem Frankenstein),
Robin Hood: A Men in Tights (A Louca!
Louca História de Robin Hood) e Dracula:
Dead and Loving It (Drácula, Morto mas Feliz).
Porém são nos roteiros e criação de
personagens que seu nome se sobressai, desde 1965, quando criou Get Smart (Agente 86).
Thomas
Meehan foi durante onze anos (de 1991 até 2001) o roteirista do
Tony Awards, e trabalhou com Brooks em outras produções como Annie, the Woman in the Life of a Man em
1970 e The Producers (Os Produtores)
de 2005.
Enquanto que Ronny Graham fora roteirista de seis episódios da série M*A*S*H, tendo as suas maiores
interações com os filmes de Mel Brooks
se dado no campo da atuação.
Ambos fizeram pontas em Spaceballs, enquanto Thomas
Meehan fora o Ajudante do Rei Roland,
Ronny Graham fora o Padre.
O universo de Spaceballs acabou sendo revisitado em 2009 com uma breve série
animada de apenas quinze episódios, com apenas Mel Brooks, Daphne Zuniga,
Joan Rivers e Dom DeLuise retornado para os seus papéis.
Jamais tive a oportunidade de assistir, mas
as imagens passam longe de servir de estimulo para o publico assistir, mas vai
que o roteiro é bom.
Ps.: Muito embora tenha pegado com facilidade
a referência a Planet of the Apes (Planeta dos Macacos) sem nunca ter
assistido ao filme - por conta da icônica cena - a de Alien que contou
com a presença do próprio John Hurt só fui conseguir entender da segunda
vez que assisti ao filme em 2016.
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