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UMA AVENTURA DO ZICO

 Dados Técnicos:

 

Nome Original: Uma Aventura do Zico

Ano de Produção: 1999

Duração: 93 minutos

Gênero: Aventura, Família

Formato: Longa-metragem

 

Com: Zico, Thierry Figueira, Paulo Gorgulho, Eri Johnson, Jonas Bloch, Laura Cardoso dentre outros

  

Normalmente quando menciono a existência deste filme ele já vem logo acompanhado de uma resposta padrão: “esse filme existe?”. Sim, ele não só existe como já tive a oportunidade de assisti-lo em uma oportunidade quando foi exibido na Sessão da Tarde em 2001.

Não surpreende o baixo conhecimento deste filme, já que quando foi exibido nos cinemas foi acompanhado por 36.727 espectadores.

O filme também chegou a ser lançado em VHS e DVD (somente no Japão, em 2004).

E honestamente, sorte de quem não teve que assistir a isso.

É difícil encontrar algo que se salve após os enfadonhos 93 minutos de filme que pareciam nunca acabar. Que experiência difícil.

É um filme que achou por bem carregar a mão em todos os estereótipos possíveis para a caracterização de seus personagens, e logo com dois minutos já estava insuportável ter que lidar com o que estava em tela.

O ponto de partida do filme é um concurso promovido pelo personagem título, que permitiria a 22 garotos passar por um determinado período sob sua supervisão (um mês?) e receber as mais variadas dicas e técnicas para se tornarem grandes jogadores de futebol no futuro e poderem ser os “craques da nova geração (pela faixa etária sairia dali o Evandro Roncatto).

É impossível não associar este mote de um concurso que seleciona alguns garotos com o que vimos em A Fantástica Fábrica de Chocolates (Willy Wonka and the Chocolate Factory).

Muito embora aqui tenhamos 22 garotos ao invés dos cinco na obra referenciada.

E mesmo assim apenas quatro tiveram alguma importância no filme, Tuca (Felipe Barreto Adão), Kazuo (Rodolpho Fukatami), Dida (Dado Oliveira) e Lula (Carla Gomes). Na prática há um quinto garoto Fred Mondo (Gabriel Gabriel).

E é nestas cinco crianças que vemos de maneira carregada os estereótipos que mencionei.

Tuca é um garoto carioca que vive em uma favela; Kazuo o descendente de japonês que mora na Liberdade em São Paulo (e tem um Taiko no quarto para berrar ainda mais que estamos falando de alguém ligado à terra do sol nascente); Dida é o garoto nordestino que vive em meio a miséria; Duda uma garota gaúcha que vive em uma Estância; e, claro, Fred Mondo, o garoto gordinho que só quer saber de comer e que é “ruim de bola”.

Os demais garotos são apenas nomeados na hora da divulgação do resultado do concurso, e a maior parte sequer se deram ao trabalho de nos créditos individualizar cada um deles, mencionando apenas como os “garotos selecionados”.

E é daqui que o filme parte, ao mesmo tempo em que retrata a alegria dos (quatro) selecionados vemos a frustração de Fred por sua não seleção enquanto era retratado como um glutão que devorava um pedaço de bolo (que obviamente tinha que deixar seu rosto todo sujo de chantily) enquanto suas irmãs? Gina (Gisele Rufino) e Lina (Daniele Rufino) o chamam de gordo.

Que duplinha estranha.

Revoltado por não ter sido selecionado, Fred procura seu pai Sérgio proprietário de uma empresa de alta tecnologia que curiosamente trabalha com clonagens, para que ele auxilie no seu intento de criar uma cópia do Zico para que ele se torne seu treinador particular.

E que momento para diálogos expositivos sem qualquer necessidade. Quando o guri caminhava pelos laboratórios da empresa dava para perceber facilmente do que se tratava. Inclusive com placas indicativas de “original” e “cópia”. Mas não, os afortunados envolvidos acharam por bem destacar um personagem para explicar para o moleque - que certamente já estava habituado com aquilo dada a naturalidade que se locomovia no ambiente - o que estavam fazendo. É chamar o expectador de idiota ao ter que mostrar algo tão óbvio.

A caracterização da empresa é outra chuva de lugar comum ao abusar de efeitos sonoros “futuristas” e no ambiente da empresa. Acertaram em cheio num filme “C” dos anos 1980.

A única coisa que justifica toda esta baboseira é se for uma tentativa de ridicularizar a figura do herdeiro mimado que acredita que tem que ter tudo o que quer. Mas é meio difícil de acreditar nisso pelo resultado.

Enfim.

Outro ponto jogado no lixo é a trama envolvendo a Lula, que era a única coisa que tinha potencial de acontecer ali. Afinal, ela era uma garota que tinha o sonho de jogar futebol, mas para poder participar do concurso teve que esconder isso, já que o concurso era só para meninos.

Ao invés de tentarem construir uma história voltada para o equívoco que é a segregação das mulheres para a prática de futebol e que elas têm as mesmas condições do que os homens, preferiram partir para essa história troncha de clones.

E honestamente, o fato de ela ser uma garota é totalmente irrelevante para a trama. Não se presta a nada, salvo se houve qualquer tentativa de fazer humor com as incontáveis vezes em que repetiram ela confundindo os gêneros e se referindo no feminino ao invés do masculino enquanto arranca risadas dos amigos.

Nem vou entrar no mérito dos problemas práticos que em condições normais de temperatura e pressão ela teria que enfrentar, como a ausência de documentação para hospedagem e viagem aérea, ou mesmo dos dados para a inscrição.

É muito sem sentido.

A dupla formada por Judith Bernstein (Betty Erthal) e Demétrius (Eri Johson) é a responsável por realizar o sonho de Fred. Ela é a cientista responsável pelo processo de clonagem enquanto ele é o assistente bocó. E mesmo Judith sendo responsável por desenvolver um procedimento tão revolucionário ela é uma figura bem panguá.

Não tem a menor condição a postura que ela adota ao longo da projeção. Se fosse um filme caricato como O Ataque dos Tomates Assassinos (Attack of the Killer Tomatoes) até que faria sentido. Aqui não. É um filme que absurdamente se leva a sério.

As crianças ficam hospedadas em um hotel e ela resolve por bem ficar por lá também, além de sempre achar por bem ficar falando pelos cotovelos o plano dela de elaborar uma cópia do Zico.

E olha que sequer o Zico ficava no hotel junto com as crianças, mas sim a sua desinteressante dupla de assistentes Marcão (Thierry Figueira) e Carol (Íris Bustamente), que se fossem substituídos por uma petisqueira de plástico não faria qualquer diferença. São tão nulos para a trama que apenas se limitam a estranhar as inconsistências de personalidade do chefe após o processo de clonagem. E dão de ombros aos avisos de Lula do que tinha acontecido, afinal, graças ao falatório da cientista lá ela foi a única que percebeu o que estava acontecendo.

Bom para os atores que receberam o cachê pelo trabalho.

A postura dos dois é totalmente inaceitável e inconcebível ao permitirem constantes interrupções dos treinamentos para intervenções da dupla Judith Bernstein/Demétrius.

Os treinamentos mais pareciam aqueles tutoriais do “Aprenda Futebol com o Zico” que vinham em umas revistas “CD-ROM” no meio dos anos 1990. Talvez tenha sido daí a ideia do filme.

Quanto a chamada “clonagem” a personalidade do Zico é dividida em duas (sentido? Nenhum), enquanto aquela que se manteve no corpo original se tornou “rude”, sua Zicópia (sério, deram esse nome) se tornou um bon-vivant que acaba regressando para sua origem para apreciar a vida.

Daqui para a frente a trama é um nada profundo com um monte de figurante entrando e saindo de cena e não há nenhuma preocupação ou motivação dos personagens e quase não sai do lugar, enquanto só resta a torcida para que isso acabe logo.

O final do filme é uma partida sem qualquer sentido e forçam uma rivalidade absurda, já que apenas uma pessoa sabia o que estava acontecendo. Fora a total ausência de consequências para os “vilões”. Por mais que seja uma produção voltada para o público infantil, só uma frasezinha de lição de moral saída diretamente de um episódio do He-Man. É tratar as crianças como idiotas.

Nada fez sentido.

Olha, que coisa lastimável. Criticar Dragonball Evolution depois disso aqui soa desrespeitoso.

Nenhum ser humano se porta da maneira como os atores estavam se comportando dentro do filme. Enquanto um grupo pecava pelo exagero o outro optava pela inexistência do mais rasteiro traço de expressividade. Dá até medo de imaginar topar com um povo assim na rua.

Os diálogos eram pavorosos e só propiciava frustração ao ter que escutar eles.

O roteiro e direção ficaram a cargo de Antônio Carlos da Fontoura, que regressava à direção de um filme após um hiato de quatorze anos. Seu trabalho de direção mais recente foi Somos Tão Jovens em 2013.

É tanta coisa equivocada que fica complicado.

Os cenários não comprometem tanto, já que em sua maioria são locais que já existiam. Mas quando precisaram inventar saiu aquilo lá na Corporação.

Tem um beijo ali que não faz o menor sentido.

O filme, aliás, conseguiu a proeza de cometer um erro absurdo. As crianças ao chegarem ao hotel para se hospedarem deveriam formar grupos de quatro pessoas (como são 22 crianças não vai dar certo esta divisão, tem gente sobrando nessa conta, até nisso eles não prestaram atenção) e ao chegar aos quartos eles poderiam escolher livremente as camas em que ficariam. Em cada cama tinha uma bolsa temática do concurso com os uniformes, e que já estavam personalizados com o nome de cada. É cada erro besta.

Se você for uma das 36.727 pessoas que foi ao cinema para assistir esse filme gostaria de lhe deixar os meus sentimentos para ti.

 

Ela é agora Pop Star

Comentários

  1. O autor mereceu ver esse filme. Eu gostaria de poder ter visto o autor vendo esse filme e gostaria de obrigá-lo a ver novamente.

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